RELATO DE MINHA EXPERIÊNCIA: Em Uma Sala de Ensino regular.

Quando comecei a trabalhar como interlocutora (Durante muitos anos, os Intérpretes têm lutado para serem reconhecidos, não apenas como colaboradores na comunidade surda, mas como verdadeiros profissionais, que buscam aperfeiçoamento, técnica, estudo e conhecimento .Dia 01/09/2010 ocorreu a regulamentação da profissão do intérprete, Lei 12.319 ) não imaginei que essa profissão me proporcionaria em relação a convivência com os alunos e suas dificuldades. Durante muitos anos, os Intérpretes têm lutado para serem reconhecidos, não apenas como colaboradores na comunidade surda, mas como verdadeiros profissionais, que buscam aperfeiçoamento, técnica, estudo e conhecimento. Dia 01/09/2010 ocorreu a regulamentação da profissão do intérprete, Lei 12.319 )

Inserida em uma sala de 6ª ano do Ensino Fundamental, com 5 (cinco) três vezes por semana e 6 (seis ) aulas 2 vezes por semana , pude vivenciar toda a metodologia que muito estudei nos livros e lia nos artigos de revistas Acadêmicas , que poderia s e resumir em “o papel do professor frente aos desafios encontrados em uma sala de aula”, Na verdade eu fui contratada para atender alunos com surdez profunda e que tinham como primeira língua oficial a língua de LIBRAS. Ao transpor as explicações do professor regente da disciplina da grade curricular correspondente a grade curricular , observei que minhas explicações em LIBRAS se perdiam por falta de entendimento do significado de muitos sinais e por falta de registro. A minha aluna D.A. (deficiente auditiva) além de entrar tardiamente na antiga 5 ª série do Ensino Fundamental , atualmente 6 ª ano não possuía escrita nem leitura em português ,( 2º língua dos surdos) Apesar de não estar ali para alfabetizar , me senti co-responsável pelo desenvolvimento da aluna , porque se ela não lê-se com fluência não conseguiria interpretar textos e por conseguinte não escreveria com coesão , apenas continuaria ser uma copista e seria excluída mesmo sendo incluída em uma sala de ensino regular. Por ser essa disciplina nova, se possui muitas metodologias , muitas ideologias , mas, material concreto são escassos , para não dizer inexistente em escolas regulares ( são encontrados em sala de recursos ) sendo assim , comecei a confeccionar os meus próprios material ( um tanto infantil , é claro) , procurei fazer um material concreto para minha que a minha aluna consegui-se montar o abstrato ( pensamento com lógica). Confeccionei um alfabeto móvel em libras onde os sinais possuía relação com as letras do alfabeto da língua portuguesa , fiz um acervo com figuras que possuía relação com os conteúdos aplicados nas disciplinas regulares ficando : figuras + sinal + datilogia de libras + nome do objeto em língua portuguesa (trilinguismo , discutido por mim em outro texto) dessa forma a minha aluna que não conhecia alguns sinais em libras poderia relacionar todos os significados que estavam em jogo.

No decorrer desse processo e por já estar a quase 40 dias convivendo diariamente com essa classe , comecei a me interessar por uma aluna que se sentava no fundo da sala, essa aluna apresentava as mesmas dificuldades de minha aluna surda, mas sendo ouvinte , ela não era alfabetizada e possui dificuldade em formular idéias abstratas , sensibilizada com a situação achei conveniente e que de nada atrapalharia o meu trabalho como interlocutora , partilhar com ela o processo de alfabetização que estava fazendo com minha outra aluna X, pois eu estava trabalhando basicamente com o concreto. Para minha surpresa a aluna que vou identificar como aluna Y , se apoderou da língua de sinal como base para sua alfabetização , porque quando eu faço a configuração do A na mão , essa letra é visível, fazendo a ponte entre o que seria abstrato ( se eu apenas fala-se A) para o concreto, permitindo que o aluno (a) consiga formular idéias, opiniões e dar significado, pois quando eu falo a palavra “deserto” crianças que não possui a habilidade de relacionar rapidamente a palavra ao seu significado , ela perde o sentido do conteúdo que esta sendo trabalhado , fica “boiando”, mas quando eu forneço pistas para a construção do significado com a intervenção de figuras em que ela possa reconhecer sobre o que se esta falando , a sua assimilação é rápida e contribui favoravelmente para a memorização , e tive a chance de comprovar que esse método me trazia bons resultados:

1. Que a aluna X e a aluna Y realmente entendiam ao que eu estava me referindo.

2. Que a repetição de figuras-sinal-escrita em português, contribuíam imensamente para uma memorização com significado.

3. Que as alunas X e Y, estavam conseguindo acompanhar e internalizar os conteúdos do professor regente

4. O mais importante, que estava contribuindo para produção de textos e estavam construindo conhecimentos.

Quem deu ou dá aula em uma sala do Ensino Fundamental, sabe por experiência própria que em uma mesma sala com os mesmo nível de idade e com a mesma base cultural , se possui vários tipos de alunos : _Alunos que pegam tudo rapidinho, _ Aluno que demora um pouquinho pra pegar , mas consegue acompanhar, _ Alunos que são lentos, _ Alunos que são “parados”.Bom devo antes abrir uma ressalva, que eu só pude ter esse olhar e entender a situação de cada aluno , porque estando na sala de aula o meu trabalho era interpretar na língua de sinais e não para passar conteúdos e cumprir a tão temível metodologia curricular que segrega as idéias e as habilidades do professor o tornando um mero instrumento de mão de obra , e que eu ficava praticamente 5 horas na mesma sala tendo com isso uma maior intimidade um entendimento sobre o perfil de cada aluno e suas competências . E dentro dessa sala os “parados” me chamou a atenção , havia dois meninos que não faziam absolutamente nada , não na verdade faziam sim , descontextualizavam a sala , brincavam , mexiam com os outros , eram briguentos, e adoravam passear pela diretoria. Em sala de aula nem se atreviam a abrir o caderno ficavam com aquela cara de quem ta lá na lua desenhando a bandeira dos Estados Unidos e eles nem sentavam perto, cada um tinha seu lado da sala para incomodar. Quando conversava com professores mais experiente a respeito deles em sua maioria a opinião era a mesma , que um era mesmo devagar e que o outro ( talvez pelo seu pontuario ) era um menino de alto risco ( não sei porque e preferi não descobrir) e que eu não me preocupa-se logo ele seria expulso da escola.

Mesmo não sendo de minhas competências , por que meu papel ali não era ser professora alfabetizadora, mediadora, conselheira etc. E mesmo sempre ouvindo que eu não era responsável pela menina Y que “não aprendia como aprender”, algo dentro de me mim falava mais alto, porque mesmo este não ser o meu trabalho a minha responsabilidade , o meu comprometimento com a educação esta em meu DNA, isso me fez aproximar desses alunos e tentar compreender os motivos que faziam ter bom comportamento tão inverso ao esperado.

Eu me aproximei do menino de “alto risco” que chamarei de Y 2 , quando pedia para ele abrir o caderno , ele fazia uma cara d e bobo e ficava olhando para o outro lado e com um sorriso patético na cara, se eu fosse para o outro lado ele começava a olhar para os colegas da sala com a mesma cara de bobo e com aquele riso patético, ( imaginem a cena ) ele nem se habilitava em algumas ocasiões abrir a bolsa e quando eu pedia que ele abri-se a bolsa escolar , ele ria e estiva os braços como que para espreguiçar , e eu todo dia ,a cada aula pedia para ele participar das atividades. Eu já tinha conseguido uma certa intimidade com ele , as vezes sentava perto quando não estava atarefada em minhas funções e tentava puxar papo tipo , o que você fez ontem, o que mais gosta de , e ele me respondia de cabeça baixa em uma voz quase inaudível , mas respondia. Um dia ao tomar o celular em que ele brincava na sala de aula , ( e olha que foi quase uma luta corporal , ele ao me ver chegar trancou o celular em suas mãos) , ele aos gritos o pedia , eu falava que só o entregaria no final da aula, e ele dizia que era mentira que eu ia entregar para a diretora ( em minha escola , é de praxe ao tomar qualquer objeto , entregar para direção , para que se tome providencias ) . Eu me posicionei bem na frente dele e olhando dentro dos olhos disse, “eu não sou mentirosa e não descumpro o que prometo. Faltando alguns minutos para acabar o dia letivo eu entreguei o celular e pedi que nunca mais o usa-se em sala de aula. Outro momento que estreitou a nossa convivência foi quando ao observá-lo mexer com o coleguinha chamei atenção e ele me desacatou dizendo que eu não era professora dele que eu estava ali por causa da aluna X e da aluna Y , eu expliquei calmamente para ele que , não obstante a minha posição naquela sala eu era uma educadora e tinha liberdade de intervir na situação em que eu acha-se pertinente. ( normalmente eu uso palavras bem difícil para a série deles , e quando algum aluno quer saber o significado eu explico e peço para conferir no dicionário, um que sempre trago comigo). Eu o encaminhei á diretoria , onde ele teve 3 ( três ) dias de suspensão.Foi a partir dessa pequenas situações corriqueiras em uma sala de aula que ele percebeu que eu sabia o que estava fazendo e o que estava querendo fazer. Em uma oportunidade sentei ao lado dele e pedi que ele fizesse a lição e ele começou a olhar para baixo , e eu comecei a insistir e dizer faça eu te ajudo , ai ele me disse “Não sei ler nem escrever”, um menino de 15 anos , no 6ª ano da 5ª série do Ensino Fundamental. Após um breve diagnóstico o classifiquei como silábico alfabético , comecei a passar exercícios igual aos que passava para as alunas X e Y , e após a professora coordenadora da sala perceber o interesse dele em aprender o trouxe para a frente junto dos meus outros alunos para que eu pudesse fazer um trabalho diferenciado com ele também (alfabetização).[ Não quero neste relato colocar em jogo as competências, profissionalismo e o compromisso de meus amigos docentes que trabalham nessa sala , que desempenham muito bem o seu trabalho , mas devido eles muitas vezes possuir apenas 2 aulas por semana , e ainda serem professores de disciplinas específicas e não serem pedagogos , também não quero culpar os professores das séries iniciais , que sei de seu árduo trabalho e muitas vezes em situações precárias e sem reconhecimento]. O aluno “avuado” que chamarei de Y3, de forma nenhuma ficou despercebido, já com aval de outros professores também o trouxe para perto de mim para descobrir o que acontece com ele , ainda estou o observando , mas ao constatar que , ele é um menino que sabe ler , escreve muito bem , apenas se embanana todo em acompanhar a classe , outro dia a professora de português passou um texto na lousa e contei cinco folhas que ele começava a escrever e se perdia e a arrancava e jogava no lixo e começava tudo de novo , ao me sentar ao lado dele perguntei o motivo e ele disse , que a professora já tinha apagado o que ele estava escrevendo , em outras ocasiões quando ele não queria fazer nada , e ao questioná-lo ele me dizia que não sabia fazer , ao sentar com ele e o ajudar ditando ou mostrando o que era para fazer ,ele fazia muito bem . [Se eu fosse psicóloga eu diria que esse menino tem problemas de segurança ,auto afirmação], mas como não sou ,estou apostando em uma coisa muito simples, que talvez na esse menino não enxerga na lousa e por algum motivo não quer falar , mas já pedi o encaminhamento dele para o oculista Nessas altura estou tão familiarizada com a sala que ocupo muitas funções : sou boa ouvinte de problemas sentimentais, apaziguadora de briguinhas , professora que “ da dica” , a profª que esclarece duvidas sobre assuntos “acreditem incríveis” ,e lógico a profª que fala uma língua diferente LIBRAS, Voltando agora ao relato de realmente a minha função a aluna X que é surda , quando eu a conheci ela era uma menina , introvertida, vivia em um mundo só dela , com a atenção que a dedico , ela esta interagindo com a sala , esta naquela fase de descoberta da escrita , onde escreve e manda bilhetinhos para todo mundo, a sala de tanto me ver estão também alfabetizada em libras, e sempre pego alguns alunos se comunicando m libras quando a professora esta ocupada em alguma tarefa. A experiência para os alunos regulares foi tão gratificante e interessante que atualmente faço um trabalho voluntário na escola da família , para poder atender a todos que se interessam em aprender a língua de sinal e com isso garantir a acessibilidade nos meios de comunicação.



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