PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUA MATERNA SUJEITO SURDO (LIBRAS)


Por Vanda Ap. Góes

Ao longo da história humana registros e estudos tem apontado toda segregação estereótipos que os indivíduos surdos tem enfrentado. O Brasil quando comparado com outros países nota-se que pouco avanços teve na educação e na elevação social desse grupo assim como ainda se faz necessário uma política voltada aos cumprimentos das Leis que asseguram os direitos de seus patriotas essas leis deferidas mas pouco cumprida : Lei2005/06 do código do consumidor, BRASIL. Lei Federal n Q 10048, de 08.11.2000 - Dispõe sobre  a Prioridade de Atendimento -regulamentada pelo Decreto nQ 5296, de 02.12.2004 BRASIL. Lei Federal nQ 10098, de 19.12.2000 - Lei da Acessibilidade - regulamentada pelo Decreto nQ 5.296, de 02.12.2004. BRASIL. Lei Federal n V0436, de 24.04.2002 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providências - regulamentada pelo Decreto nQ 5626, de 22.1 2.2005.
O Brasil por ser um território grande e de diversidades incalculável acaba por não ter estudos sociológicos adequados a realidade brasileira e muito vezes ficando apenas nos incisos das Leis os direitos adquiridos e estes são do conhecimentos de uma pequena parcela da população não fazendo parte da cultura do povo, se tornando assim uma língua morta . Esse fato tem contribuindo paro que ao longo dos tempos os sujeitos surdos , vem enfrentado confrontos tantos nos aspectos sociais cognitivos e emocionais que interferem em seu paradigmas, costumes e relações intra e enter-pessoal. Outro fato relevante paraestudos é saber a diferença existente entre o sujeito com deficiência surda e o sujeito surdo,sendo estes rotulados e emplacados em uma mesma categoria .A diferença entre essas duas categorias nota-se em teste de audiometria que possibilita a classificação da perca auditiva sendo  que com valor  igual ou inferior a 41 dBs são necessárias experiências visuais, das mais simples para a mais complexas para uma possível estruturar conhecimentos que o levará a obter habilidades especificas para aquisição de competências lingüísticas . È através das experiências visuais ofertadas desde os primeiros dias de vida do bebê surd@ é que sepoderá estruturar todo o processo de aquisição lingüística e social dessa criança .
Coll, César (2004) ,relata que foram observadas crianças de 12 a 19 meses , que sendo filhos de pais surdos tinham uma comunicação pré estabelecida com seus pais igual aosbalbucios vocal da criança ouvinte , que seus balbucio eram manual silábicos e que estes continham duração e possíveis construções de significados igual das crianças. O balbucio é a expressão de uma capacidade de linguagem amodal , associada a fala e ao sinal. Apesar das diferenças radicais dos mecanismos motores que subjazem ao sinal e a linguagem falada as crianças surdas e ouvintes produzem unidades de balbucio idênticas(p.180)
A Dr. Cristina Broglia Feitosa de Lacerda (UFSCar 2010) fonoaudióloga relata através desuas relevantes pesquisas a importância dos primeiros meses de vida da criança, onde ocontato com a mãe e as primeiras introdução das mãos mágicas ( mãos que falam com o bebê, chamando a atenção dele ao toque , gesticulando com as mãos para chamaratenção,voltar o rostinho do bebê para sua direção para chamar sua atenção fazendo uma dança com a fala e com a mãos), levam a criança a sair de seu mundo silencioso e
emergir no mundo dos significados. Importantes estudos nos revelam que nosso cérebro édividido em hemisfério direito e hemisfério esquerdo , sendo o direito responsável pela visão , e o esquerdo pela fala , o mais interessante em tudo é que o hemisfério esquerdo transforma em pensamentos complexos para uma linguagem não sendo necessário comose pensava, a percepção de sons , mas, sim que todo elemento o leva a essa competência , podendo assim afirmar que os sinais introduzidos substituem o som , e quea criança surda sofre os mesmos processos de aquisição de estrutura de pensamentos e que com estímulos apropriados se pode obter naturalmente a linguagem oral.
Para tanto é imprescindível que as alterações comportamental do bebê se percebem na primeira infância, ou seja , desde o colo da mãe , que o bebê não esta oferecendo respostas aos estímulos auditivos , se faz necessário a busca de um profissional da áreae que este profissional possua habilidades especificas e dimensional para tratar de umassunto que fará toda uma diferença .O que realmente acontece, e que sendo os pais ouvintes acabam por confundirem surdez com síndromes, anomalia, deficiênciascognitivas etc. Existem poucos quadros em que se observa antes dos 3 primeiros meses de vida (em alguns casos pode-se diagnosticar pela língua a Síndrome. È de suma importância ressaltar o papel da família , sendo que o primeiro contato com a socializaçãoe comunicação parte da família, e como essa família poderá socializar e ter comunicaçãocom seu filh@ que não ouve e não responde os seus estímulos? È através dasexperiências visuais ofertadas desde os primeiros dias de vida do bebê surd@ é que sepoderá estruturar todo o processo de aquisição lingüística e social dessa criança Estudos tem apontados que o bebê surd@ tem os mesmos processos evolutivos cognitivos que um bebê ouvinte e que este estando em contato com uma língua em que norteia um processo natural de comunicação , este passara pelos mesmos estágios pré-lingüísticos de um bebê ouvinte. Caberia nas grades curriculares de formação do pedagogo ,já que estátem a disciplina de LIBRAS, conforme sancionada a Lei 2005/6, que houvesse também uma capacitação voltada a diferenças e semelhanças pertinentes ao assunto pois ainda hojea sociedade possui dois pontos de vistas sobre a surdez, sendo :

· Portadores de Necessidades Especiais.

· Diferença Lingüísticas.

O Deficiente auditivo não tem perca total de surdez, essa pode ser leve , média ou moderadas necessidade em muitos casos de se usar uma prótese auditiva (AAS) possuindo uma comunicação oral .O surdo possui perca auditiva profunda, tendo se fazer necessário a aquisição de estratégias visual para desenvolver idéias e
suposições para elencar e estruturar seus processos cognitivos, possuindo assim uma áudio comunicação. Há algum tempo atrás atribuíam a dificuldade de aquisição deletramento aos surdos por pensarem que estes não possuíam a faculdade de raciocínio abstrato, , sendo este vinculado a inteligência ,os incapacitando de formarem processos mentais pertinentes a formação de idéias. este respeito Ceci (1990) argumenta que a capacidade de pensar complexamente esta quase sempre ligada a uma rica base deconhecimento obtida no contexto ou na prática. As pessoas inteligentes não são dotadasde um maior poder de raciocínio abstrato, o que elas tem é suficiente conhecimentonum domínio para pensar de maneira complexa.. Tem se buscado muito formas de entender e representar uma estrutura compatível com a necessidade gramatical com morfemas e concordâncias nominal para língua de sinal brasileira Verifica-se a importância do oralismo em determinada épocas , pesavam que falando habilitariam as pessoas a fazerem parte da sociedade, mas apenas conseguiram terem mal falantes sem semântica e concordância incapazes de fazerem um frase com períodos composto e complexos.Com tentativas um tanto evasivas para tal educação passou a se procurar estratégias que possibilita os surdos a entenderem e formular estruturas básicas para interagirem socialmente. Skiliar, Carlos, 1945. Aponta o bilingüismo como uma forma completa e de fácil aquisição a comunidade surda , por essa ser uma língua natural da cultura , que não era um português interpretado para a língua de sinais como na comunicação total , mas , possui toda uma estrutura lingüística econceitual para paradigmática educação. Sendo esta, estabelecida por: Língua de sinais, leitura e escrita fala (opcional), sendo esse o direito das crianças surdas e uma Língua oficial paras serem educadas nela. O bilingüismo é tido como o melhor meio de construir estruturas lingüísticas e pensamentos complexos, porque o sujeito surdo através de experiências visuais passa de sinal simples , sinal composto e a sinal comcombinações completas revelando assim , que todo individuo independentemente desua herança genótipa e hesteriótipa possui a faculdade de se adaptar e interagir com seu meio social.

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CRÔNICA: Difícil despedida - por Cida Boss

11 de Nov de 2010 - 15h50min

Difícil despedida
Oh! Bendito o que semeia/ Livros... livros à mão-cheia.../ E manda o povo pensar!/O livro caindo n`alma/ É gérmen - que faz a palma,/ É chuva - que faz o mar. (Castro Alves)Andam alardeando as cassandras do apocalipse que o livro de papel está moribundo. Uma pesquisa divulgada pelo jornal “O estado de S. Paulo” revela que muitas crianças gostariam de ler suas obras preferidas digitalizadas. 25% das crianças ouvidas já leram um livro em parelho digital. Entre 9 e 17 anos, 57% estariam interessadas em fazer o mesmo.
A nova versão do livro é o e.book, sem papel, sem cheiro de tinta, sem virar de páginas, sem cantos dobrados para marcar o trecho já lido. As arautas de más novas assustam gente da minha idade. Imagino que as novas gerações não prantearão o desaparecimento desse objeto quase sagrado para a minha.
O escritor argentino Jorge Luis Borges declarou, certa vez, emocionado: “o maior acontecimento de minha vida foi, sem sombra de dúvida, a biblioteca de meu pai". No conto “Felicidade Clandestina”, Clarice Lispector narra, de forma primorosa, o sofrimento de uma menina pobre cujo sonho era ler “Reinações de Narizinho”. No final da narrativa, após ter conseguido seu tão desejado exemplar, a menina permanece abraçada ao livro, em êxtase, sem abri-lo por um bom tempo, tão grande eram o respeito e admiração pelo tesouro recém-adquirido.
Faço parte de uma geração que sabia que o livro era um tesouro de informações, emoções, devaneios. E me sinto temerosa de perdê-lo do jeito que o conheci e não o reconhecer, no formato diferente. Roger Chartier, em “A aventura do livro: do leitor ao navegador” enfoca a reorganização do mundo da escrita após o advento da Internet e as mudanças na forma de sua apresentação: do texto manuscrito em rolo de pergaminho para o códice, formato semelhante ao livro moderno impresso; do códice ao livro impresso; do livro impresso ao eletrônico. A cada mudança, imagino, o mesmo sentimento de perda deve ter se instalado no coração de quem ama ler.
Reconheço que não me atraía muito a idéia de ler no computador, com a cansativa luminosidade do monitor, vendo as páginas correrem de cima para baixo, como num pergaminho antigo. A tecnologia hoje já colocou as páginas eletrônicas uma ao lado da outra; a passagem é feita com movimentos que imitam a busca dos dedos pela quina da página.
Estou certa de que me adaptarei e terei o mesmo enlevo ao ler palavras cuidadosamente escolhidas e organizadas, na tela do meu computador. Afinal, quando se ama uma pessoa, ama-se o que ela é e não sua aparência. Da mesma forma, deixarei de lamentar a ausência física do papel, o cheiro e o tatear pelas páginas e me emocionarei com o conteúdo.
Mas... pelo sim, pelo não, manterei como relíquias amadas meus livros de papel, para os dias em que a saudade deles se tornar insuportável.

Cida Bosschaerts cidaboss1@hotmail.com



BIBLIOTECA VIRTUAL

É só clicar no título para ler ou imprimir.



1. A Divina Comédia -Dante Alighieri


2. A Comédia dos Erros -William Shakespeare

3. Poemas de Fernando Pessoa -Fernando Pessoa


4. Dom Casmurro -Machado de Assis


5. Cancioneiro -Fernando Pessoa


6. Romeu e Julieta -William Shakespeare


7. A Cartomante -Machado de Assis


8. Mensagem -Fernando Pessoa


9. A Carteira -Machado de Assis


10. A Megera Domada -William Shakespeare


11. A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca -William Shakespeare


12. Sonho de Uma Noite de Verão -William Shakespeare


13. O Eu profundo e os outros Eus. -Fernando Pessoa


14. Dom Casmurro -Machado de Assis


15. Do Livro do Desassossego -Fernando Pessoa


16. Poesias Inéditas -Fernando Pessoa


17. Tudo Bem Quando Termina Bem -William Shakespeare


18. A Carta -Pero Vaz de Caminha


19. A Igreja do Diabo -Machado de Assis


20. Macbeth -William Shakespeare


21. Este mundo da injustiça globalizada -José Saramago


22. A Tempestade -William Shakespeare


23. O pastor amoroso -Fernando Pessoa


24. A Cidade e as Serras -José Maria Eça de Queirós


25. Livro do Desassossego -Fernando Pessoa


26. A Carta de Pero Vaz de Caminha -Pero Vaz de Caminha


27. O Guardador de Rebanhos -Fernando Pessoa


28. O Mercador de Veneza -William Shakespeare


29. A Esfinge sem Segredo -Oscar Wilde


30. Trabalhos de Amor Perdidos -William Shakespeare


31. Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis


32. A Mão e a Luva -Machado de Assis


33. Arte Poética -Aristóteles


34. Conto de Inverno -William Shakespeare


35. Otelo, O Mouro de Veneza -William Shakespeare


36. Antônio e Cleópatra -William Shakespeare


37. Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões


38. A Metamorfose -Franz Kafka


39. A Cartomante -Machado de Assis


40. Rei Lear -William Shakespeare


41. A Causa Secreta -Machado de Assis


42. Poemas Traduzidos -Fernando Pessoa


43. Muito Barulho Por Nada -William Shakespeare


44. Júlio César -William Shakespeare


45. Auto da Barca do Inferno -Gil Vicente


46. Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa


47. Cancioneiro -Fernando Pessoa


48. Catálogo de Autores Brasileiros com a Obra em Domínio Público -Fundação Biblioteca Nacional


49. A Ela -Machado de Assis


50. O Banqueiro Anarquista -Fernando Pessoa


51. Dom Casmurro -Machado de Assis


52. A Dama das Camélias -Alexandre Dumas Filho


53. Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa


54. Adão e Eva -Machado de Assis


55. A Moreninha -Joaquim Manuel de Macedo


56. A Chinela Turca -Machado de Assis


57. As Alegres Senhoras de Windsor -William Shakespeare


58. Poemas Selecionados -Florbela Espanca


59. As Vítimas-Algozes -Joaquim Manuel de Macedo


60. Iracema -José de Alencar


61. A Mão e a Luva -Machado de Assis


62. Ricardo III -William Shakespeare


63. O Alienista -Machado de Assis


64. Poemas Inconjuntos -Fernando Pessoa


65. A Volta ao Mundo em 80 Dias -Júlio Verne


66. A Carteira -Machado de Assis


67. Primeiro Fausto -Fernando Pessoa


68. Senhora -José de Alencar


69. A Escrava Isaura -Bernardo Guimarães


70. Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis


71. A Mensageira das Violetas -Florbela Espanca


72. Sonetos -Luís Vaz de Camões


73. Eu e Outras Poesias -Augusto dos Anjos


74. Fausto -Johann Wolfgang von Goethe


75. Iracema -José de Alencar


76. Poemas de Ricardo Reis -Fernando Pessoa


77. Os Maias -José Maria Eça de Queirós


78. O Guarani -José de Alencar


79. A Mulher de Preto -Machado de Assis


80. A Desobediência Civil -Henry David Thoreau


81. A Alma Encantadora das Ruas -João do Rio


82. A Pianista -Machado de Assis


83. Poemas em Inglês -Fernando Pessoa


84. A Igreja do Diabo -Machado de Assis


85. A Herança -Machado de Assis


86. A chave -Machado de Assis


87. Eu -Augusto dos Anjos


88. As Primaveras -Casimiro de Abreu


89. A Desejada das Gentes -Machado de Assis


90. Poemas de Ricardo Reis -Fernando Pessoa


91. Quincas Borba -Machado de Assis


92. A Segunda Vida -Machado de Assis


93. Os Sertões -Euclides da Cunha


94. Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa


95. O Alienista -Machado de Assis


96. Don Quixote. Vol. 1 -Miguel de Cervantes Saavedra


97. Medida Por Medida -William Shakespeare


98. Os Dois Cavalheiros de Verona -William Shakespeare


99. A Alma do Lázaro -José de Alencar


100. A Vida Eterna -Machado de Assis


101. A Causa Secreta -Machado de Assis


102. 14 de Julho na Roça -Raul Pompéia


103. Divina Comedia -Dante Alighieri


104. O Crime do Padre Amaro -José Maria Eça de Queirós


105. Coriolano -William Shakespeare


106. Astúcias de Marido -Machado de Assis


107. Senhora -José de Alencar


108. Auto da Barca do Inferno -Gil Vicente


109. Noite na Taverna -Manuel Antônio Álvares de Azevedo


110. Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis


111. A "Não-me-toques"! -Artur Azevedo


112. Os Maias -José Maria Eça de Queirós


113. Obras Seletas -Rui Barbosa


114. A Mão e a Luva -Machado de Assis


115. Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco


116. Aurora sem Dia -Machado de Assis


117. Édipo-Rei -Sófocles


118. O Abolicionismo -Joaquim Nabuco


119. Pai Contra Mãe -Machado de Assis


120. O Cortiço -Aluísio de Azevedo


121. Tito Andrônico -William Shakespeare


122. Adão e Eva -Machado de Assis


123. Os Sertões -Euclides da Cunha


124. Esaú e Jacó -Machado de Assis


125. Don Quixote -Miguel de Cervantes


126. Camões -Joaquim Nabuco


127. Antes que Cases -Machado de Assis


128. A melhor das noivas -Machado de Assis


129. Livro de Mágoas -Florbela Espanca


130. O Cortiço -Aluísio de Azevedo


131. A Relíquia -José Maria Eça de Queirós


132. Helena -Machado de Assis


133. Contos -José Maria Eça de Queirós


134. A Sereníssima República -Machado de Assis


135. Iliada -Homero


136. Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco


137. A Brasileira de Prazins -Camilo Castelo Branco


138. Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões


139. Sonetos e Outros Poemas -Manuel Maria de Barbosa du Bocage


140. Ficções do interlúdio: para além do outro oceano de Coelho Pacheco. -Fernando Pessoa


141. Anedota Pecuniária -Machado de Assis


142. A Carne -Júlio Ribeiro


143. O Primo Basílio -José Maria Eça de Queirós


144. Don Quijote -Miguel de Cervantes


145. A Volta ao Mundo em Oitenta Dias -Júlio Verne


146. A Semana -Machado de Assis


147. A viúva Sobral -Machado de Assis


148. A Princesa de Babilônia -Voltaire


149. O Navio Negreiro -Antônio Frederico de Castro Alves


150. Catálogo de Publicações da Biblioteca Nacional -Fundação Biblioteca Nacional


151. Papéis Avulsos -Machado de Assis


152. Eterna Mágoa -Augusto dos Anjos


153. Cartas D'Amor -José Maria Eça de Queirós


154. O Crime do Padre Amaro -José Maria Eça de Queirós


155. Anedota do Cabriolet -Machado de Assis


156. Canção do Exílio -Antônio Gonçalves Dias


157. A Desejada das Gentes -Machado de Assis


158. A Dama das Camélias -Alexandre Dumas Filho


159. Don Quixote. Vol. 2 -Miguel de Cervantes Saavedra


160. Almas Agradecidas -Machado de Assis


161. Cartas D'Amor - O Efêmero Feminino -José Maria Eça de Queirós


162. Contos Fluminenses -Machado de Assis


163. Odisséia -Homero


164. Quincas Borba -Machado de Assis


165. A Mulher de Preto -Machado de Assis


166. Balas de Estalo -Machado de Assis


167. A Senhora do Galvão -Machado de Assis


168. O Primo Basílio -José Maria Eça de Queirós


169. A Inglezinha Barcelos -Machado de Assis


170. Capítulos de História Colonial (1500-1800) -João Capistrano de Abreu


171. CHARNECA EM FLOR -Florbela Espanca


172. Cinco Minutos -José de Alencar


173. Memórias de um Sargento de Milícias -Manuel Antônio de Almeida


174. Lucíola -José de Alencar


175. A Parasita Azul -Machado de Assis


176. A Viuvinha -José de Alencar


177. Utopia -Thomas Morus


178. Missa do Galo -Machado de Assis


179. Espumas Flutuantes -Antônio Frederico de Castro Alves


180. História da Literatura Brasileira: Fatores da Literatura Brasileira -Sílvio Romero


181. Hamlet -William Shakespeare


182. A Ama-Seca -Artur Azevedo


183. O Espelho -Machado de Assis


184. Helena -Machado de Assis


185. As Academias de Sião -Machado de Assis


186. A Carne -Júlio Ribeiro


187. A Ilustre Casa de Ramires -José Maria Eça de Queirós


188. Como e Por Que Sou Romancista -José de Alencar


189. Antes da Missa -Machado de Assis


190. A Alma Encantadora das Ruas -João do Rio


191. A Carta -Pero Vaz de Caminha


192. LIVRO DE SÓROR SAUDADE -Florbela Espanca


193. A mulher Pálida -Machado de Assis


194. Americanas -Machado de Assis


195. Cândido -Voltaire


196. Viagens de Gulliver -Jonathan Swift


197. El Arte de la Guerra -Sun Tzu


198. Conto de Escola -Machado de Assis


199. Redondilhas -Luís Vaz de Camões


200. Iluminuras -Arthur Rimbaud


201. Schopenhauer -Thomas Mann


202. Carolina -Casimiro de Abreu


203. A esfinge sem segredo -Oscar Wilde


204. Carta de Pero Vaz de Caminha. -Pero Vaz de Caminha


205. Memorial de Aires -Machado de Assis


206. Triste Fim de Policarpo Quaresma -Afonso Henriques de Lima Barreto


207. A última receita -Machado de Assis


208. 7 Canções -Salomão Rovedo


209. Antologia -Antero de Quental


210. O Alienista -Machado de Assis


211. Outras Poesias -Augusto dos Anjos


212. Alma Inquieta -Olavo Bilac














DIREITOS DAS PESSOAS SURDAS
























A PEREIÇÃO PROCEDE DA IDEALIZAÇÃO

O QUE SIGNIFICA SER LINGÜISTA NO SÉCULO XXI? REFLEXÃO TEÓRICA E METATEÓRICA

Por Giovanni Parodi (Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso - Chile)
Tradução: Fernanda Tonelli (UFSCar)



Pode ser lugar comum deste gênero discursivo apontar que não mereço este reconhecimento que os membros da Academia Chilena de La Lengua me concedem. Mas o gênero, entre outros, justamente articula os propósitos, os entornos e os participantes do discurso. Por isso, é válido iniciar com esta declaração.
Devo dizer que nunca, no mundo das possibilidades, me imaginei como membro desta instituição. Isso era algo que ocorria aos outros; aos meus mestres, aos meus colegas, a alguns conhecidos. Sempre presenciei essas cerimônias de longe. Eram para os grandes, e eu – certamente – não me sinto nesta condição.
Lembro-me que há uns cinco anos, conversando com uma grande amiga e pesquisadora, esta me confessou seu anseio de um dia ser chamada pela Academia. Ela declarava que esse era seu maior sonho acadêmico e profissional. Eu me limitei a observá-la com curiosidade, talvez com imaturidade acadêmica. Não compreendia efetivamente ao que ela se referia. Ela, sim, entendia os caminhos que nesse momento me pareciam estranhos. Yanina Cademártori hoje está em sua própria luta terrena para sobreviver a uma enfermidade terrível que a cada dia a separa mais de todos aqueles que a amam. Mas sei bem que compreendeu quando lhe transmiti com enorme alegria o comunicado que me chegou por Don Alfredo Matus numa noite de segunda-feira. Ela sorriu e me disse: “Giova, você merece”. Querida Yani: neste dia, estás aqui junto a mim com mais força que nunca.
Como dizia, nunca aspirei a essa honra. Talvez porque meus dois mestres ostentam a categoria numeraria e eu me sinto muito distante de tal nível acadêmico. É por isso que assumo com humildade esta nomeação. Só procurei fazer o que foi ditado por minha consciência, me inspirando na energia de viver e na força de minha mãe e a entrega total à vida acadêmica que sempre tentei emular de Luis Gómez Macker e Marianne Peronard.
Distintas senhoras e senhores acadêmicos, desejo expressar meus sinceros agradecimentos pela vossa confiança e ofereço comprometer meu trabalho e esforço no cumprimento dos objetivos desta corporação e ajudar a levá-la ao novo milênio cruzando os obstáculos dos desafios que os tempos impõem. Neste singular salão de honra da minha querida Universidade, me sinto hoje cheio de energia para assumir tal compromisso. Toda minha família aqui presente, entre eles minha mãe, minha esposa, minhas filhas, minha irmã e meus grandes colegas e respeitáveis amigos me acompanham nisso. É uma tarefa comunitária, pois eu sozinho pouco ou nada posso fazer. Conto com todos vocês.
A seguir, darei curso à reflexão que desejo compartilhar com vocês neste dia.



O problema: Como se chega a ser lingüista?
Em um afã científico de corte acumulativo, busquei aproximar-me de um problema – em minha opinião – de grande atualidade e relevância para nós que nos empenhamos neste âmbito. Disse de um afã acumulativo porque, talvez com excessiva ambição, pretendo encadear minha reflexão com o pensamento científico de meus mestres. Este afã de construção e acumulação cientifica não se faz em um sentido horizontal, senão em um verticalista e inclusivo. Em outras palavras, não pretendo reiterar idéias no plano do já dito; mas avançar de certos magníficos núcleos temáticos, como por exemplo, os discursos de incorporação tanto de membros correspondentes como de número de Marianne Peronard e Luis Gómez Macker. Desse modo, procuro progredir, baseado no que já existe. Pretendo continuar uma linha de pensamento; se possível, coerente com alguns princípios fundamentais.
É bastante comum dizer-se que no âmbito das ciências humanas e das ciências sociais não se constrói o conhecimento de modo vertical e hierárquico. Pelo contrário, diz-se que se acumula em um sentido deslocado e não integrador, gerando teorias e enfoques alternativos. Assim, o desafio que me proponho se insere dentro do pensamento da já assentada Escuela Lingüística de Valparaíso.
Pois bem, sem mais demora, vejamos qual é o celebre assunto no qual busco adentrar-me. Anteriormente, só fiz uma vaga referência e nunca ficou suficientemente explicitado o referente da frase dita. Com efeito, o foco desta reflexão aborda a função do lingüista contemporâneo e seu futuro. As perguntas chave que abordarei são:
· Como se converte alguém em lingüista?
· Que faz em sua vida profissional um lingüista do Século XXI?
· Quais são o âmbito e as responsabilidades de um cientista da linguagem e das línguas hoje em dia?
· Que implica aderir à dita comunidade acadêmica?
Se recorrermos ao que as pessoas em seu cotidiano normalmente assumem, a tendência indica que o lingüista é, por uma parte, uma pessoa competente em várias línguas particulares, isto é, uma pessoa com grande habilidade para aprender e falar muitas línguas. Em outras palavras, sob esse ponto de vista, lingüista se assemelha a poliglota. Talvez, inclusive por isso em alguns círculos não especializados, se denomina este profissional como LENgüista, ou seja, derivando diretamente de LENgua ou LENguagem. Estou seguro que muitos de nós já tivemos de corrigir em mais de uma oportunidade algum documento de caráter oficial, inclusive dentro da Universidade, em que se havia escrito LENgüítica. Isso revela, em minha opinião, a aproximação do profissional lingüista com o domínio das línguas e não necessariamente com as ciências da linguagem.Uma segunda acepção, proveniente da cultura popular, diz em relação à idéia de especialista em manejo da língua e conhecedor de seus usos e abusos. Por isso, se costuma exigir ao lingüista sua atuação como censor e autoridade do correto e incorreto. Assim, às vezes, o lingüista se vê diante da situação de proceder como juiz normativista que soluciona um conflito lingüístico e deve ser possuidor da verdade absoluta. Às vezes, o público envolvido costuma se sentir decepcionado quando o especialista declara que ambas as vozes ou estruturas em disputa são adequadas, mas que têm contextos de uso e situações específicas e que cumprem funções divergentes. A decepção de espalha entre os ouvintes desejosos de escutar uma sentença incisiva que resolva definitivamente o conflito lingüístico. Pior resultado e inquietação se gera entre os participantes do debate se o lingüista declara que ambos adversários estão corretos e ambas versões ou alternativas enfrentadas se empregam indistintamente. Assim, muitas vezes se termina por colocar em dúvida a opinião do suposto especialista, pois a forte tradição idealizadora impõe um erro desqualificador de uma ou outra postura. Nesses casos, costuma-se ocorrer que a autoridade não consegue convencer e seus esforços não penetram na forte crosta da cultura e das crenças populares.
Assim, como se sabe, em círculos ainda mais restritos, o clamado lingüista é sempre o designado para tomar notas, escrever cartas, redigir acordos e falar em público. Como se professar este ofício fosse indicador de manejo excelso da língua oral e da língua escrita e tudo isso implicasse um conhecimento acabado de seus múltiplos registros, inumeráveis gêneros e infinitas variedades de uso.A partir dessas perspectivas, a do poliglota e a do conhecedor de gramática e pronunciação, pode-se dizer que muitos falantes/escreventes poderiam qualificar-se como lingüistas. Não parece exigir-se, necessariamente, título profissional, trajetória em pesquisa, nem ter alcançado uma reputação como especialista disciplinar. Exemplos disso, todos conhecemos e temos vivido inumeráveis situações relacionadas. Desafortunadamente, estas vertentes a nível leigo – muito difundidas – continuam uma tradição fortemente arraigada na cultura de nossas sociedades contemporâneas.Pois bem, se seguir o rastro clássico em uma indagação inicial de tipo lexicográfico, o Diccionario de La Lengua Española (R.A.E., 2001: 1384) indica que lingüista é uma “persona versada en lingüística”. Como se infere, nada se declara dos deveres deste profissional, de seus compromissos, nem de suas tarefas. O foco está em que tal pessoa deve conhecer a lingüística, com um grau importante de profundidade. Se seguir a indagação ao vocábulo lingüística, notamos que, no mesmo Diccionario de La Lengua Española (R.A.E., 2001: 1384) se afirma que é a “ciência del lenguaje”.
Com estes breves antecedentes, temos que um lingüista deve ser uma pessoa que domina um corpus relativamente importante de conhecimentos atribuídos à ciência da linguagem. Sem lugar para dúvidas, a rica visão e perspectiva que nos proporcionam o alvorecer do Século XXI também nos permite observar que a quantidade de ramos, áreas, sub e interdisciplinas que hoje existem constituem um terreno de estudo extremamente amplo no qual cada parcela tem alcançado em desenvolvimento considerável. Esta visão a qual aludimos põe em evidência a complexidade de conseguir um conhecimento cabal de todas as denominadas “ciências da linguagem”, agora no plural.
O que procuro colocar em destaque é que a definição de lingüista contida no Diccionario de La Lengua Española assim como a de lingüística são, por um lado, um tanto concisas e até simples; além disso, ambas definições resultam exageradamente abarcadoras e envolvem uma quantidade de conhecimentos que dificilmente, na atualidade, um estudioso pode dominar com suficiente profundidade. Muito possivelmente em meados do século passado ainda era factível que um lingüista alcançasse, em um tempo prudente, a construção coerente de um corpo disciplinar de conhecimentos até esse momento disponível. No entanto, o vertiginoso avanço do conhecimento altamente especializado, a crescente variedade de subdomínios disciplinares que apresentam níveis de profundidade diversos e as enormes redes interdisciplinares, assim como a excessiva disponibilidade imediata de informação cientifica em linha, impõem fronteiras difíceis de alcançar e superar com êxito.
Na minha opinião, nenhuma dessas concepções é totalmente errônea, ainda que tampouco definitivamente correta. Algo de cada uma se pode resgatar. É muito possível que alguma delas beire certos traços do ofício, mas – em essência – todas elas se distanciam muito da tarefa científica e dos desafios profissionais que imagino para um lingüista do Século XXI. Um lingüista, de fato, poderia falar somente uma língua, mas não deve, obrigatoriamente, ser um especialista no uso e manejo dessa língua.
À medida que se aprecia, ao aprofundar-se no que faz o lingüista, se torna inevitável enfrentar uma pergunta magnífica: o que é a lingüística? Voltaremos mais adiante sobre isso.

Lingüista: Profissão ou ofício?
Voltando ao Diccionario de La Lengua Española e a suas definições, resgatamos a idéia de que o lingüista é um versado na ciência da linguagem, o que implica ser um estudioso da linguagem e sua realização em línguas naturais e, por extensão, também nas línguas artificiais. Mas, que implica encarregar-se de uma ciência que aborda a indagação em torno da linguagem humana e das línguas particulares em que esta se instancia? Certamente, esta é uma questão de envergadura que supera com acréscimo ao poliglota e ao conhecedor de gramática e pronunciação.
Para ser um lingüista não existe necessariamente uma habilitação por meio de um título profissional ou de uma graduação acadêmica. Do meu ponto de vista, sem sequer um doutorado habilitaria para isso. Muito pelo contrário, têm existido muitos lingüistas de destaque que, com muito, conseguiram formalizar somente um grau acadêmico inicial e ninguém nunca duvidou de sua idoneidade. Então, onde reside a questão que procuramos esclarecer? Segundo o que entendo, o assunto pode ser ainda mais complexo: se trata de uma vocação de vida; de uma forma de viver. Para ser lingüista se deve assumir um desafio científico. Assim, ao lingüista se impõe o exercício de um ofício, ou seja, é uma pessoa que se faz responsável por um compromisso, é alguém que consegue possuir, por experiência, capacidade e êxito, uma competência dentro de uma área específica do conhecimento. Ou seja: mutatis mutantis, o lingüista se faz, não nasce.
Alí reside este impasse. É, sem dúvidas, um assunto quase místico e com isso não implico que se requeira nada mágico nem sobrenatural. Seria, melhor dizendo, de vocação, de professar um ofício.
Por esta óptica, novamente seguindo o Diccionario de La Lengua Española (R.A.E., 2001: 1384), temos que o vocábulo ofício, em suas duas primeiras acepções, consigna: “ocupación habitual”, “cargo, ministerio”. Neste sentido, pelo meu argumento, ao lingüista se aplica muito bem o termo ofício. Justamente por isso. Seu trabalho é uma empresa ministerial, um compromisso no qual tem a cargo uma determinada questão; é o que se faz responsável de algo. Comparativamente falando, uma profissão fica validada por um título: ser um lingüista se valida através da comunidade cientifica, no reconhecimento dos pares. É algo ao qual se aspira e se pretende alcançar; mas não uma questão que se dá de fato. Ser lingüista não é uma profissão que se valida através de um título universitário. Certamente os graus e títulos acadêmicos são um suporte inicial que informa acerca do cumprimento de estudos formais em uma área, mas que não necessariamente impelem a que uma pessoa se faça cargo de uma responsabilidade e assuma um compromisso de vida. Assim, o ofício do lingüista é validado por uma comunidade científica, isto é, através do reconhecimento dos pares.

O lingüista do Século XXI
Ser um lingüista do Século XXI impõe um conhecimento amplo das problemáticas acerca da linguagem, tais como sua natureza, sua especificidade, sua evolução, seu assento biológico. Também ser lingüista contemporâneo implica contar com um conhecimento em torno das línguas particulares, de suas regularidades e de suas variações. Dentro deste enorme reino de possibilidades, o lingüista é livre para eleger um domínio, uma área de interesse, na qual aprofundará e a qual converterá em sua especialização. Mas a urgência de focalização não deve embaçar a enorme necessidade de respostas a questões fundamentais. O lingüista do Século XXI não deve hastear exclusivamente a bandeira da normativade, dos prescritivismos. Este pesquisador deve ser uma pessoa que enfoca interrogações, que pretende resolver problemas da vida cotidiana, que observa os diversos planos da linguagem e das línguas e busca explicações. Cultiva-se assim uma linha de investigação e uma reflexão crítica. Une-se assim, tradição e pós-modernidade.Como se sabe, ainda que às vezes se confunda e não se explicite decididamente, a lingüística aborda o estudo da linguagem e das línguas. Então, claramente se distinguem dois planos essenciais. Uma de corte mais amplo e eminentemente teórico, cujos limites são disciplinarmente difusos. Em outras palavras, a filosofia, a psicologia, a sociologia, a neurologia, a biologia, todas elas aproximam-se da lingüística. De certo, isso não constitui novidade. Já o haviam apontado Platão e Aristóteles. Saussure, em seu afã cientificista, o retomou outrora. Em outro plano, também tem marcas teóricas, mas deve, sinergicamente, alcançar um grau de operacionalização, chegar às instâncias e voltar a alimentar o plano superior. Os limites entre ambos são certamente difusos; nisso reside uma grande riqueza.Desse modo, em minha operação, a tarefa do chamado lingüista teórico se constitui em definir o que é a linguagem humana e definir seus limites em relação a outros sistemas de comunicação tanto naturais como artificiais. Ambiciosamente, podemos enfatizar que indagar a linguagem é estudar o significado, em especial os modos de significar, os quais se instanciam através das línguas particulares. Nesse sentido, o estudo da linguagem nos leva – em parte – à essência do ser humano. Constitui-se assim um traço fundamental, junto à mente e à consciência. Por sua vez, o estudo de uma ou várias línguas particulares, sob forma de entidades históricas, é o estudo da léxico-gramática e a fonologia de ditos sistemas e suas realizações particulares de construção de significados. Nesse sentido, as línguas não são meros instrumentos, sob forma de carapaças ou cobertas formalistas superficiais. Elas constituem forma e essência, já que articulam os pensamentos, os sentimentos e os significados. Dão forma á cultura e a transmitem. Assim, em minha opinião, a construção e transmissão de significados contextualizados e sua necessária codificação lingüística, através de complexos processos de lexicogramaticalização em que não se descarta os planos biológico, social, cognitivo, cultural e ideológico revela arestas infinitas das áreas que um lingüista do Século XXI não deve descuidar.Então, no contexto de caracterizar o lingüista do Século XXI vale a pena por em propósito que – desde outros domínios científicos – alguns cientistas afirmam que nosso trabalho carece definitivamente de rigor científico ou, melhor dizendo, não seriamos propriamente científicos. Mas, por que outros cientistas podem construir esta percepção? Por que alguns cientistas, supostamente rigorosos, poderiam pôr em dúvida o caráter científico de nossa disciplina, supostamente fácil? Por outro lado, estimo que existe certa idéia que tende a não valorização de nossas contribuições. Entramos assim ao assunto do prestígio dos estudos lingüísticos nos ambientes científicos. Sem lugar para dúvidas se constitui em uma questão de valorização social da lingüística e seus ramos. Poderia ser que nossas respostas aos problemas atuais não sejam suficientemente profundas ou empiricamente bem fundamentadas. Poderia ser que estivéssemos demasiadamente envolvidos em problemáticas certamente interessantes, mas que a sociedade não valoriza suficientemente. Ou, talvez, que nós mesmos não temos sido capazes de mostrar o valor de nossas contribuições.Um assunto ainda mais grave é que existe uma certa tendência a construir uma imagem equivocada do lingüista. Há quem considera que o lingüista não contribui decididamente para a resolução dos problemas contingentes. Argumenta-se que o conhecimento que aportamos é excessivamente encapsulado e pouco pragmático ou escassamente útil. Articula-se assim uma visão do lingüista como um estudioso que tende a privilegiar sistemas excessivamente conservadores e que parecem pouco ou nada inovadores e carentes de vanguardismo. Em minha opinião, muito possivelmente o lingüista mais tradicional não conseguiu dar respostas suficientes a certas demandas sociais ou não a fez com a claridade requerida. É provável que esse lingüista – às vezes – não tenha chegado a vislumbrar o que a sociedade reclama em questões pendentes, como, dentre outras, sistemas tecnológicos de ensino, mecanismos de transmissão de informação, modelização e implementação de técnicas experimentais, tecnologias da fala, meios massivos de comunicação, multilingüismo e interculturalismo, alfabetização acadêmica em educação superior. Considero que o que tem acontecido aqui é que, em parte, nós mesmos não temos sido capazes de mostrar a utilidade e o potencial do estudo da linguagem e das línguas particulares. Por um lado, desde esquemas empíricos apoiados em ciências experimentais que brindem dados importantes e, por outro, desde desenvolvimentos que privilegiem o componente de transferência tecnológica, mas à altura das vertiginosas mudanças.Até aqui vim desdobrando uma linha argumental que dei cabimento a minha concepção de uma lingüística que supere a inerência clássica. Assim, defendo e proponho uma lingüística que atenda ao uso, à variação e à variabilidade, mas que também se questione os fundamentos da linguagem. Uma lingüística que se aproxime dos falantes/escreventes e ouvintes/leitores em seus diversos contextos cotidianos e contribua com as demandas da sociedade atual. Uma lingüística que, ao mesmo tempo, atenda às propriedades de uma faculdade humana tal como é a linguagem e também tenha em conta as exigências do mundo contemporâneo e suas urgências. Tudo isso sob um enfoque interdisciplinar ou, melhor dizendo, decididamente transdisciplinar.Então, parece lícito perguntar: o que é que tem ocorrido aqui? Certamente, enfrentamos um segundo impasse. De fato, é evidente que presenciamos uma mudança. Uma mais complexa e profunda e, definitivamente, de outra dimensão.
Pontos de vista e objetos de estudo: paradoxo dos tempos atuais
Dentro desse cenário, é possível uma lingüística tão decididamente multidisciplinar? Não constitui de certo modo uma contradição em si mesmo? Não enfrentamos uma sorte de abandono da lingüística per se? O desafio atual que a lingüística deve enfrentar é o de incluir estas novas inquietações sem diluir-se completamente como um campo coerente de conhecimento.Fica claro que para onde estamos apontando é para um enfoque singular de tipo multidimensional. Dentro desse cenário, proponho assim uma nova forma de fazer lingüística. Em outras palavras, procuro que a lingüística se transcenda a si mesma, para que não seja transcendida. Neste sentido, a lingüística pode e deve ser capaz de dar um salto monumental ou sucumbirá e será absorvida por outras disciplinas que, com aparatos empíricos soberbos, vem se solidificando e vão paulatinamente incorporando dimensões de sua incumbência. O risco é que a lingüística fique circunscrita à tradicional filologia ou, em minha opinião, muito mais grave seria se ficasse limitada à gramática, ao prescritivismo tradicional. Mais preocupante ainda, a visão do poliglota e especialista em pronunciação e norma culta da língua.Alguns dirão que se trata de uma questão de pós-modernidade; outros, certamente dirão que é um pós-materialismo. A teoria da complexidade e, dentro dela, a teoria do caos algo têm a dizer.Em minha opinião, o que vem ocorrendo nos últimos anos é a progressiva complexidade da mirada sobre o fenômeno em estudo. De fato, o que acontece não é uma paulatina abordagem complexa sobre o próprio fenômeno, naturalmente multidimensional. Longe de ser o objeto que se tornou complexo, é a visão do pesquisador que se enriqueceu e se tornou exigentemente mais abarcadora, a que se diversifica e engrandece. Neste processo, cada vez mais e mais complexas esferas vão fazendo parte da perspectiva que o investigador pretende focalizar como objeto de indagação. O que tem acontecido nestes últimos anos e se desenha como o desafio para o futuro é justamente o enriquecimento e “complexalização” progressiva dos objetos de estudo, que se operam a partir de concepções teóricas diversas. Este processo gradual pode ser levado a cabo, por uma parte, em virtude do vínculo entre uma concepção teórica mais integradora e acumulativa e uma operacionalização de objetos multidimensionais, por outra este enfrentar empiricamente objetos complexos pode ser executado graças ao desenvolvimento e disponibilidade de instrumentos e técnicas que permitem a abordagem de um fenômeno, mas ao mesmo tempo de um objeto científico complexo.Desse modo, talvez agora e mais do que nunca, a concepção complexa da linguagem se pôde instanciar em objetos complexos que se indagam através de métodos também complexos. Atrevo-me a assegurar que este vínculo virtuoso entre esses três eixos possibilita uma investigação inovadora e com resultados poderosos. A seguir, a Figura 1 pretende demonstrar em gráfico as interações sinérgicas que se atualizam a partir de uma concepção complexa de linguagem, o progressivo enriquecimento dos objetos de indagação – sustentados a partir de tal visão teórica – e a disponibilidade de enfoques e instrumentos metodológicos complexos e inovadores de tipo experimental e de tipo tecnológico.
Não há dúvidas que um problema para os lingüistas tem sido o de enfrentar tal complexo fenômeno e descobrir localizá-lo em um lugar que supere todas as fronteiras do marco de ações de um cientista formalista e que só observa os feitos de uma língua particular a partir de um conjunto de dados melhor finitos e restringidos. Sem dúvida e licitamente, durante o século passado, se avançou por meio da construção de objetos científicos operacionalizáveis e que pareciam com possibilidade certeira de indagação. Aplicou-se o reducionismo metodológico. Era eminente em um momento. O que certamente fazem os lingüistas é focalizar a mirada em uma parte muito reduzida do complexo e multidimensional fenômeno. Uma forma de se aproximar tem sido a de dividir e apontar. Se não fosse assim, de que forma avançar e aproximar-se da realidade?De forma contrária ao exposto na Figura 1, em nosso afã de construir aproximações da realidade, aproximações reunidas de nossos princípios e supostos de base, temos pretendido manter a unicidade de um fenômeno supostamente homogêneo. Em um afã científico tem-se circunscrito ou delimitado o fenômeno de estudo, tem-se buscado certa homogeneidade. No entanto, o vertiginoso avanço e imposição da complexidade sobre as miradas fazem já impossível circunscrever de maneira radical a concepção de linguagem e sua operacionalização.O contrário do que aludimos está relacionado com a progressiva complexidade na concepção da linguagem e das línguas, devido, por uma parte, à paulatina maior disponibilidade de conhecimentos, assim como a decidida atitude de construir uma visão integradora, baseada acumulativamente em informação empírica disponível. Isso trouxe junto um novo cenário que demanda uma renovada atitude científica, da qual acredito não termos tomado suficiente consciência. Isso é provavelmente o que nos tem confundido e nos tem feito perder o rumo e não dar, em alguns casos, a respostas certas. Pois bem, o assunto é que essa “complexalização” das concepções teórica tem produzido uma crescente diversificação dos objetos particulares. Em outras palavras, a emergência destas novas e diversas concepções obrigou a proliferação de novos e desafiantes cenários. Não existe, desse modo, somente uma definição de linguagem e as concepções do mesmo variam grandemente. Aceitar, compreender e manejar esta heterogeneidade é parte do desafio de ser lingüista no Século XXI. Tomar consciência disso é parte do desafio. De fato, sustento que esse processo de conscientização da complexidade e da diversidade de princípios fundadores e sua existência alternativa constituem uma das tarefas do cientista da linguagem contemporâneo. Pois bem. Aqui está o paradoxo. Está diante de nossos olhos há um bom tempo. O enfrentamos em diversos cenários. Promoveu inúmeras discussões; labirínticas e eternas preocupações. Defendemos a interdisciplina e até a multidisciplina, ante as dificuldades que elas nos impõem, mas logo, talvez em um afã cientificista – duvidamos de enfrentar tamanha diversidade e tentamos aceitar a existência de um fenômeno supostamente mais homogêneo e estável. Tentamos assim manter a abordagem de uma mesma e unívoca coisa. Em minha opinião, isso tem sido um erro. Certamente um erro involuntário, uma equivocação impensada. Com efeito, não quisemos perder nosso tradicional consenso. A nenhum cientista agrada tamanha coisa. No entanto, e de fato, neste momento quase imperceptível, mas grandioso e decidido, diversificou-nos magnificamente as opções.Através da Figura 2, pretendo mostrar a concepção mais clássica na qual se assumia um conjunto de princípios teóricos e se desdobrava a partir deles uma operacionalização de um ou mais objetos de estudo. A diversidade de declarava mais nos objetos que no próprio constructo teórico. Exigia assim uma perspectiva monolítica em que aparentemente tinha consenso em torno a um paradigma que hegemonicamente se posicionava por sobre outras concepções e impunha um modo de pesquisa.



É factível que este modelo resultou útil em certos círculos muito restritos ou em comunidades científicas extremamente coesas e muito possivelmente constituídas magnificamente por nossos professores líderes e de grande carisma. Certamente, os lingüistas têm tentado conceber a linguagem e as línguas de modo unificado, buscando arduamente regularidades e princípios norteadores comuns. Não obstante, mesmo que ainda existam escolas lingüísticas deste estilo, tem-se caído o véu e os investigadores vêm assumindo uma visão mais ampla e enriquecedora. Assim, o paradoxo reside em que, enfrentando definições mais profundas e de maior rigorosidade, emerge uma enorme dispersão de diferenças de diversos tipos. Nesse momento, nossos pontos de vista se diversificam, se multiplicam. Então, nós, pesquisadores, a partir de nossas posturas teóricas e empíricas, já não possuímos tão homogeneamente os mesmos princípios teóricos nem indagamos os mesmos objetos. De fato, já não são os mesmos objetos para nós. São diversos. Por isso, chegamos a compreender e aceitar que enfocamos e examinamos, definitivamente, objetos distintos.Por um momento, parecia que não existia conflito entre essas concepções alternativas. Todos os pontos de vista pareciam surpreendentemente válidos; todos podiam contribuir. Em minha opinião, isso já não é mais factível. O lingüista deve definir-se a si mesmo e ter claridade dos princípios fundamentais de sua concepção de linguagem, das línguas e dos objetos que abordará. O desafio atual para o cientista da linguagem é confrontar a diversidade e ser capaz de não se dispersar completamente na tentativa de encontrar consensos. Neste novo cenário, as definições e claridade das tarefas específicas são um requisito. A progressiva tomada de consciência desse assunto se constitui num desafio singular para o lingüista do Século XXI. A aceitação disso é fundamental para o avanço.Na figura seguinte, tento mostrar de modo esquemático minha própria concepção da heterogeneidade de posturas, a coexistência alternativa de princípios desafiadores e a criação de objetos científicos diversos. Muitas vezes deliberada e definitivamente incompatíveis entre eles.Ter clareza mediana dessa diversificação de concepções nos permite, certamente, compreender porque temos enfrentado grandes divergências e discussões em torno da visão teórica e analítica entre posturas que acreditávamos enfrentar um mesmo fenômeno e que, conseqüentemente, abordavam objetos similares. Desse modo, fica claro, por exemplo, que não partem da mesma concepção nem do mesmo objeto de indagação científica a lingüística estruturalista de Saussure, o generativismo de Chomsky ou a lingüística sistêmica funcional de Martin. Tampouco são similares os princípios fundamentais da análise do discurso, propostos por Teun van Dijk, com os semiodiscursivos de Patrick Charaudeau. A visão antropológica social e espiritualista de Luis Gómez Macker não coincide com nenhuma das anteriores. E. certamente, tampouco é exatamente a mesma concepção de linguagem de Marianne Peronard, que se posiciona do ponto de vista da psicosociolingüística do discurso.Pensemos nisso novamente. Desde uma perspectiva ampla, todos esses cientistas pretenderam conceber um mesmo fenômeno. Todos eles estudaram a linguagem humana e as línguas. Mas coincidem em um nível muito geral e demasiado abstrato. Não bastasse isso, em minha opinião, é a forma de dizer que nos tem confundido. É evidente que os supostos ontológicos e epistemológicos e obviamente, as ferramentas metodológicas – a maioria das vezes – são radicalmente diferentes. Isso faz que seus princípios fundamentais os levem a estudar fenômenos de diferente tipo, em que o grau de complexidade seja variável e as dimensões consideradas na concepção de linguagem difiram ostensivamente. Com isso, os objetos científicos particulares não são exatamente os mesmos. Todos esses objetos revelam pequenas ou grandes diferenças.Efetivamente, esse é um assunto de alta relevância e que se deve ter certamente no ponto de mira, chegado o momento de enfrentar a decisão de ser um lingüista do Século XXI.Para explicar melhor essa questão, resumo tudo isso em uma distinção que pode ajudar a compreender melhor este ponto. A aproximação ao estudo da linguagem pode variar, basicamente, em consideração a duas questões: a) as perspectivas epistemológica e ontológica as quais se inscreve, b) o objeto científico específico que se indaga.Em minha opinião, fica claro que o objeto de estudo de um psicolingüista do discurso não é o mesmo que de um lingüista sistêmico funcional. Tampouco será o mesmo o de um lingüista formal generativista e o de um analista crítico do discurso. Tanto os objetos como os objetivos são diferentes e as metodologias. Um foneticista e um semântico generativista ou um lingüista cognitivista enfocam planos diferentes.
Algumas explicações: as viradas cognitivas e contextualistas
O problema dos movimentos pendulares no avanço científico é muitas vezes a desintegração do acumulativo. Isso quer dizer, neste contexto particular, que nos movemos entre um cognitivismo fortemente internalista com ênfase inatista e um contextualismo externalista com acento social e internacional. Infelizmente, muitas vezes não se resgata ou incorpora ou se tenta complementar visões alternativas. Por exemplo, a visão psicolingüística da linguagem normalmente não se conjuga com os princípios de uma semiótica social. Não há dúvida de que se trata de uma questão de fundamentos ontológicos e epistemológicos. O que abre cenários alternativos, mas também dicotomiza as concepções e distância aos objetos de estudo. Sob essa óptica, tal como tenho insistido, não se constrói um conhecimento de modo vertical e hierárquico em que um conhecimento necessariamente deva contribuir para os desenrolares seguintes e seja incorporado de algum modo aos futuros avanços. Desse modo, não se elabora acumulativamente a partir do existente. Muito pelo contrário, muitas vezes, deliberadamente se busca anular o prévio, criar um espaço independente. Assim, o que acontece é que se edifica de modo horizontal, substitui-se paralela e alternativamente a construção de novas noções científicas. No nuclear, isso faz com que o objeto de conhecimento, sua definição epistemológica e ontológica se distancie exponencialmente de outras alternativas.Não há dúvidas, em minha opinião, que a chamada virada cognitivista impactou substancialmente no modo de enfrentar a concepção da linguagem e dos objetos de estudo. Também a chamada virada contextual produziu uma ênfase nos aspectos semióticos sociais e pragmáticos. Contudo, são diversas as teorias lingüísticas que persistem em uma abordagem parcial do complexo fenômeno que nos preocupa, enfatizando perigosa e excessivamente uma ou outra visão. A seguir, na Figura 4, aprecia-se o movimento interativo entre lingüística e movimentos ontológicos e epistemológicos.Nesta figura se aprecia a interação polarizada que se executa entre movimentos radicalmente opostos. Entre eles, a lingüística tem-se visto pressionada pendularmente a um extremo ou outro. Em nossa proposta, advogo por uma defesa de categorias difusas ao longo de um continuum, em que se superem os extremos desqualificadores e se integre princípios valiosos de uma e outra postura. Supostamente, haverá posições que se substituirá através do continuum com maiores ou menores ênfase. Tal como já temos apontado, as concepções teóricas e os objetos de estudo se diversificam produto de supostos ontológicos e epistemológicos divergentes acerca da linguagem, das línguas e, definitivamente, do ser humano. Isso implica que, por exemplo, se considerarmos dois pólos de um continuum entre um enfoque cognitivista e outro contextualista, múltiplas operações teóricas e empíricas cabem dentro de uma diversificação com ênfases variadas. Assim, temos desde um enfoque inatista extremo da linguagem e as línguas com um grau de idealismo importante (Chomsky, 1965, 1966, 1968), até uma aproximação social de corte radical em que as representações sociais adquirem fundamental relevância e se enfatiza uma semiótica externalista (Bloomfield, 1930; Halliday, 1978; Durkeim, 1987; Halliday & Hasan, 1989; Lemke, 1992). Neles se constrói para uma excessiva mentalização do fenômeno e os objetos ou para uma coisificação radical de tipo externalista e materialista. Felizmente, entre outros dois extremos, uma concepção socioconstrutivista moderada impõe certos limites difusos e alcança, em minha opinião, consensos mais oportunos. Refiro-me, por exemplo, às contribuições integradoras de Peronard e Gómez Macker (1985), de Karmiloff-Smith (1994), e de Peronard (1999, 2007). É nesse afã integrador que o lingüista consegue somar parcelas e se adicionam dimensões. Assim, ao pesquisador se revelam novas conexões e consegue explorar e descobrir renovados vínculos integradores. Neste processo, a cognição se torna mais complexa e se vincula com diversos planos. A sociedade se multifraciona e se oferecem mais variadas fontes de interação. Definitivamente, nesse processo se constrói um fenômeno e um objeto ainda mais complexos, mas de modo acumulativo.Uma de minhas preocupações é o perigo que reside em um desses extremos, pois se pode chegar a apagar o sujeito conhecedor e não atender assim a uma parte individual dos processos da linguagem, destacando excessivamente as construções sociais de corte externalista. Nela, o conhecimento e os processos lingüísticos tendem a ocorrer de modo onipresente e impreciso dentro do contexto social. Então, tende-se a coisificar tanto a linguagem como os objetos de estudo ou, em alguns casos, se minimiza perigosamente a participação do sujeito, de sua mente, de suas emoções, de sua personalidade e de seu cérebro. A excessiva ênfase contextualista de uma visão semiótica social, em minha opinião, incidiu em um novo reducionismo teórico e metodológico. Torna-se assim imperativo superar estas debilidades de uma concepção extrema.Na outra visão extrema, ao sujeito se atribui uma função mais central. Em seus processos psicológicos idealizados residem as cognições que dão suporte a linguagem. Também existem possíveis excessos nessa concepção de linguagem humana. De fato, pode-se correr o risco de chegar a uma postura cognitiva monolítica em que o cérebro, os mecanismos corporais e processos neurobiológicos concentram unicamente uma concepção de linguagem. Tal ênfase extrema pode coincidir a um exagerado individualismo e uma centralidade muito exclusiva nos processos cognitivos; tudo isso pode derivar em generalizações um tanto homogeneizantes.

Uma proposta multidimensional: a visão da Escola Lingüística de Valparaíso
Conforme venho argumentando, a dimensão cognitiva, a dimensão lingüística, a dimensão social e a dimensão afetiva interagem de modo complexo através da linguagem. Esta concepção integradora e abarcadora tende à compreensão profunda de um sujeito da linguagem. Como se infere, esse sujeito interage em um contexto específico e constrói sua realidade através de cognições situadas e de condutas deliberadamente intencionadas. Todos estes e outros mais constituem princípios fundamentais da Escola Lingüística de Valparaíso (cf. Peronard, 2007).Desse modo, minha escolha pelo término psicossociolingüística do discurso implica um enriquecimento progressivo de minha própria concepção da linguagem humana. Por isso, tenho restringido o uso de términos como psicolingüística, dado que aludiam a uma perspectiva excessivamente lingüística cognitivista e desvalorizavam outras esferas; ainda que seu uso em certos contextos se aplica adequadamente. Esta concepção integral a qual me aludo dá conta de uma visão mais ampla e reflete a multidimesionalidade da linguagem. Com isso, tento colaborar para uma perspectiva mais abarcadora e balanceada, superando, na medida do possível, os reducionismos nos pólos extremos e dicotômicos de tipo cognitivista e contextualista. Em parte, construo a partir das contribuições de Luis Gómez Macker de uma visão sociolingüística e espiritualista e também, baseado em uma opção mais psicolingüística e empirista como a desenvolvida por Marianne Peronard. Então, essa nova concepção teórica com apoio empírico é a que defendo e de onde, acumulativamente, tento projetar minhas próprias reflexões e pesquisa de minhas equipes de trabalho. A partir dessa demarcação, em meu ponto de vista, evita-se a coisificação da linguagem em termos externalistas e inclui-se de modo decidido um sujeito real e concreto em situações comunicativas claramente definidas.Então, a visão psico-socio-discursiva da linguagem que sustento aborda, entre outros, o vínculo entre processamentos cognitivos, propósitos comunicativos, enunciados contextualizados, representações mentais, interações sociais, tipos de aprendizagens e contextos culturais. Como é de costume, nossa visão se posiciona sob uma concepção integral da linguagem e do ser humano, e de um desenvolvimento de competências de discurso em ambientes educativos diversos. Assim, defendo uma opção original de corte socioconstrutivista e deliberadamente cognitivista. Devido a essa atribuição ontológica e epistemológica, concebo ao ser humano como possuidor de uma faculdade particular da linguagem e da cognição, a qual o constitui em um ente reflexivo e transcendente. Faculdade que lhe permite, através de processos educativos permanentes, ser capaz de se co-construir como pessoa que participa ativamente em sua sociedade e de auto-administrar seu próprio conhecimento na interação psicossociodiscursiva. Esta visão singular do ser humano é congruente com minhas concepções de texto, discurso, gênero e compreensão e produção lingüística (Parodi, 2003, 2005a, 2005b, 2007, 2008).Sustentar esta complexa visão mentalista implica, por um lado, aderir a uma compreensão de ser humano como sujeito possuidor de uma consciência de si mesmo como qualidade singular e, por outro, aceitar que a linguagem constitui uma faculdade inerente a este sujeito, mas que por sua vez lhe concede o caráter de tal. Consciência do eu e faculdade da linguagem se constituem em núcleos vitais de minha concepção de ser humano. Nesse sentido, é fundamental declarar que esta faculdade da linguagem é de natureza inata na espécie humana como disposição básica de construir sistemas de significados, mas não como um componente lingüístico preso a um modo de universais lingüísticos. Essa faculdade torna-se uma potência para a elaboração de um complexo sistema lingüístico de comunicação, a qual se constrói de maneira socioconstrutivista em um ambiente psicodiscursivo através de complexos processos ontogenéticos.
Sobre isso, a figura a seguir tenta captar as dimensões que a linguagem humana captura de nossa perspectiva particular.Não obstante essas declarações iniciais, é vital deixar claro que, tal como temos sustentado anteriormente a respeito dos desafios do lingüista do Século XXI, a construção de teorias deve apoiar-se em um sistema de enfoques empíricos experimentais que ofereçam informação que nutra as novas reflexões. Seja que esses dados confirmem hipóteses do pesquisador ou as refutem, as relações sinérgicas permanentes entre estes eixos constituem um mecanismo de asseguramento de revisão, ou de uma construção e reconstrução permanente de alguns princípios teóricos.
A inscrição a tal configuração de sistemas dinâmicos permite uma construção correta de conhecimentos científicos, validados empiricamente e cujos aportes aplicados contam com sustentos teóricos firmes. Esta forma de aproximarmos dos dados possibilita uma compreensão mais profunda de situações comunicativas reais em contextos sociais particulares.Estou seguro de que não é fácil alcançar desenvolvimentos integrados nem construção vertical e progressiva de saberes científicos, salvo ao interior de escolas de pensamento ou de grupos relativamente coesos. Sem dúvida, se não se conta com isso, é possível que se produza certa sensação de estancamento da disciplina. Não obstante, em longo prazo, espera-se que se produza um paulatino assentamento de idéias e uma progressiva integração que produza um conhecimento mais estável. Certamente, tudo isso nos outorga um conhecimento mais profundo da linguagem humana e das línguas particulares. Neste afã trabalhamos na Escola Lingüística de Valparaíso e confiamos entregar contribuições substanciais e integradoras à comunidade de especialistas, assim como buscar mecanismos para aportar e responder às demandas da sociedade atual.
À guisa de conclusão
Pois bem, depois desse percurso, declaro que de nenhum modo pretendo deixar de ser um lingüista. Muito pelo contrário, busco ambiciosamente recodificar, ou melhor, ressignificar o conceito e ampliar assim sua cobertura. Aceitar a heterogeneidade e as quebras epistemológicas e ontológicas. Reconhecermos na diversidade e aceitar que de um cenário particular é de onde falo. É verdade que existem muitos dilemas e que as perplexidades estão em cada esquina do caminho. Apesar disso, em minha opinião, o lingüista do Século XXI deve definitivamente ser um vanguardista pós-moderno. Com toda a complexidade que isso implica, mas também com a enorme riqueza que o aporta.Estou certo de que ser lingüista do Século XXI implica manejar um delicado balanço entre tradição, inovação e vanguardismo. Algumas tarefas do lingüista ou da lingüística que virá deveria ser:
· Propender para a construção de um corpo de conhecimento disciplinar altamente valorizado por sua replicabilidade, consistência e projeções;
· Fortalecer, com sólidos princípios teóricos e antecedentes empíricos, a dimensão aplicada e a de transferência;
· Tender à modernização computacional e implementação de princípios teóricos e realidades sustentadas empiricamente;
· Levar à disciplina e submeter-se à padrões gerais de avaliação;
· Contribuir à modernização e tecnologização das técnicas de coleta e manejo de dados, assim como dos instrumentos de análise e
· Fortalecer o componente científico experimental, quando couber.
É possível que algumas destas questões sejam de sentido comum, mas estimo que colocá-las no papel com certa ordem e a partir do cenário da Academia Chilena de La Lengua pode resultar uma contribuição para as novas gerações de estudantes de pré e pós-graduação que não contam com antecedentes desse tipo para decidir seu futuro.Por último, dentro do contexto do que foi dito, não deixa de chamar a atenção que os cientistas cognitivos e filósofos da linguagem em obras vanguardistas deste novo século se aproximem de conclusões um tanto similares de paradigmas e fundamentos epistemológicos diversos e com consensos difusos. Refiro-me a Robert Penrose (1994), Antonio Damásio (2000) y John Searle (2004), que concluem que um fenômeno tão esclarecedor como a consciência ampliada e a mente humana, como núcleos da humanidade do homem e traço da linguagem, estão ainda nas sombras.Em nenhum caso isso nos desmotiva em nosso ofício, mas – muito pelo contrário – constitui-se em fonte de enorme inspiração e nos oferece caminhos a recorrer esperançosamente através do milênio que se inicia.
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Discurso de incorporação como Membro à Academia Chilena de La Lengua
Publicado inicialmente na Revista Signos vol. 41 nº 67 em agosto de 2008.
Disponível na World Wide Web: http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-09342008000200005&lng=pt&nrm=iso

Agradecemos vivamente ao Professor Giovanni Parodi pela autorização para tradução e publicação deste artigo.